Há diversas oportunidades para a carreira de TI na área tributária. Confira as dicas do nosso DPO Vinícius Oliveira
No Brasil, em 2023, foram criadas mais de três milhões e oitocentas mil novas empresas (AGENCIAGOV). Essas novas entidades impactam todo o mercado, especialmente a área tributária, gerando uma demanda crescente por serviços de assessoria com o objetivo de garantir que tais entidades estejam de acordo com o complexo sistema tributário brasileiro. Ou seja, a cada novo CNPJ, surge a busca por orientação especializada de profissionais e empresas para simplificar e otimizar as rotinas tributárias.
Diante da crescente demanda por esses serviços surgem as TaxTechs, cujo propósito é utilizar tecnologias a favor do setor tributário. De forma que utilizam da TI (Tecnologia da Informação) para criar soluções inovadoras que otimizam e simplificam as operações fiscais dos seus clientes.
Se tratando do sistema tributário brasileiro, o papel das TaxTechs não é nada fácil. As rotinas tributárias envolvem cálculos complexos, manipulam grandes massas de dados e sofrem constantes alterações por parte do governo. As tecnologias utilizadas, além de serem essenciais, também devem ser robustas para atuar neste setor. Só para entendermos o tamanho do problema, em 2023 foram lançadas, em média, 46 novas atualizações a cada dia útil, segundo o IBPT.
Dentro deste debate, destaca-se a utilização de tecnologias de ponta, por parte das TaxTechs, para prover os recursos necessários aos seus clientes. Conceitos como Inteligência Artificial, Machine Learning, Big Data, Computação em Nuvem, Low Code e Microsserviços são amplamente empregados na área de TI dessas empresas.
A Deloitte publicou, em 2023, uma pesquisa sobre o tema Tax Transformation, na qual foram entrevistados 300 líderes fiscais e financeiros seniores em empresas de vários setores, tamanhos e regiões para compreender as expectativas para este setor. De acordo com a pesquisa, o futuro será marcado pela utilização de equipes cada vez mais diversificadas e integradas com tecnologia.
Quando se trata de competências necessárias, 44% dos respondentes afirmam que para os próximos três a cinco anos, o setor demandará por profissionais na área de gestão de dados capazes de apresentar insights estratégicos baseados em dados. De acordo com a Deloitte, trata-se de um reflexo da crescente importância da tomada de decisões baseada em dados diante do aumento dos requisitos governamentais para acesso direto aos dados fiscais das empresas.
O estudo mostra ainda que, com o avanço da transformação digital no setor tributário, os líderes dessa área estão cada vez mais envolvidos nas discussões sobre a adoção de tecnologias, principalmente quando se trata da modernização de ERP e a estratégia de dados corporativos. Inclusive, 63% dos entrevistados indicaram ter autonomia significativa sobre a estratégia de tecnologia tributária.
Diante destes números, é evidente a importância de estabelecer um setor de tecnologia dentro das TaxTechs dedicado ao desenvolvimento e manutenção de TI. Nasce aí a oportunidade para o profissional de TI meter a mão na massa com tecnologias de ponta em um mercado em constante expansão.
O profissional que vai trabalhar nessa área precisa ter em mente que toda tecnologia utilizada deve bater de frente com as expectativas desse mercado. Cabe ao setor de TI das TaxTechs desenvolver aplicações extremamente seguras, uma vez que os dados manipulados são muito sensíveis, pois carregam toda a movimentação financeira dos clientes. Destaca-se aqui o profissional de segurança da informação, que deve ser envolvido em toda a TI das TaxTechs.
Além disso, as constantes mudanças no setor tributário impactam diretamente na forma como as tecnologias são desenvolvidas. Ou seja: assim que uma normativa é publicada, toda a TI deve ser revisitada para que os impactos gerados pela mudança sejam avaliados. Portanto, é essencial que os produtos desenvolvidos pelas TaxTechs sejam de fácil manutenção, garantindo que as atualizações possam ser lançadas no menor tempo possível.
A escalabilidade das aplicações também é um dos principais objetivos das TaxTechs, especialmente diante da sazonalidade em certas rotinas tributárias, como ocorre com a ECF – Escrituração Contábil Fiscal. Durante os períodos de entrega dessa obrigação, prevê-se um aumento significativo na demanda dos serviços oferecidos pelas TaxTechs. Com isso, surge novamente uma oportunidade para a equipe de desenvolvimento explorar tecnologias avançadas, como a computação em nuvem, a fim de proporcionar uma infraestrutura robusta que sustente as aplicações em todos os momentos.
O volume de dados também é impressionante: apenas um cliente é capaz de produzir, em um único mês, arquivos de texto com milhões de linhas que devem ser consideradas para o cálculo dos impostos. Entram em cena, então, tecnologias como Machine Learning, Big Data e armazenamento em nuvem para lidar com a imensidão de dados manipulados pelas TaxTechs.
E não para por aí! Para lidar com toda essa massa de dados, é necessário o desenvolvimento de aplicações robustas capazes de converter os dados em informações de forma rápida e eficiente, sem que o usuário seja impactado com lentidão nas ferramentas. Conceitos como Otimização de Algoritmos, Paralelização e Distribuição, Arquitetura de Microsserviços e o uso eficiente dos recursos computacionais devem ser empregados pelo time de tecnologia.
Usabilidade também é um grande desafio para as TaxTechs, pois elas têm a missão de converter o complexo sistema tributário em uma rotina amigável ao usuário. Nesse contexto, torna-se essencial envolver profissionais especializados em User Experience, Product Design, User Research, Design de Interface, entre outras áreas necessárias para compreender as necessidades e dificuldades dos clientes. A criação de soluções com interfaces capazes de simplificar o trabalho dos profissionais envolvidos na apuração de impostos requer uma abordagem multidisciplinar.
Observa-se, portanto, que as oportunidades não se limitam apenas aos que querem “botar a mão no código”. A programação é apenas uma parte do vasto espectro da TI. Para garantir o sucesso das TaxTechs é crucial o engajamento de profissionais de diversas áreas. Há oportunidades para diversos perfis quando se trata do uso de tecnologias no setor tributário.
Agora você deve estar se perguntando: além de formação em TI, o profissional também deve ter formação tributária para atuar nessa área? A resposta mais rápida para esta pergunta é: não!
As TaxTechs garantem a assertividade dos seus serviços contando com um conjunto de profissionais da área tributária. É com o trabalho em equipe do time de TI e do time de negócios que as soluções são criadas. As TaxTechs, assim como em diversos outros setores, combinam mais de uma área para gerar valor aos seus clientes.
A Reforma Tributária está longe de diminuir a importância ou o escopo de atuação das TaxTechs; na verdade, consolida ainda mais sua relevância no cenário atual. O recente texto aprovado pelo Senado não apenas mantém, mas amplia a visibilidade e a carga de trabalho para aqueles envolvidos no universo tributário. Em vez de representar um obstáculo, essa reforma se revela como uma fonte robusta de oportunidades, especialmente para profissionais de TI.
Essa perspectiva ressalta que as TaxTechs estão na vanguarda de um setor em constante evolução, onde as demandas são crescentes. A complexidade do sistema tributário, agora potencializada pela reforma, cria um ambiente propício para a aplicação de soluções inovadoras.
Por fim, as TaxTechs não apenas respondem às demandas do presente, mas antecipam as necessidades futuras. O engajamento de profissionais de diversas competências é essencial para garantir a eficácia e o sucesso contínuo dessas empresas, consolidando-as como agentes essenciais na transformação digital do setor tributário do país.
Vinícius Oliveira
DPO Tax Strategy
Referências:
https://www2.deloitte.com/br/pt/pages/tax/articles/tax-transformation-trends.html